Bento Teixeira - Poeta autor de PROSOPOPÉIA


Cristão-novo, Bento Teixeira estudou para seguir a carreira eclesiástica, mas desistiu. Formou-se no Colégio da Bahia, onde lecionou.

Nasceu no Porto em 1561.  Por ter assassinado a esposa, teve de se esconder em Pernambuco, onde redigiu Prosopopéia, publicada em 1601. Faleceu em Pernambuco, na segunda década de 1600.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Prosopopéia, poemeto encomiástico a Jorge de Albuquerque Coelho, 3º donatário da capitania de Pernambuco, marca o início do movimento Barroco no Brasil e pode ser considerado um primeiro exemplo de estilo rebuscado no Brasil-Colônia. Escrito em oitavas heróicas, reflete forte influência dos Lusíadas pela sintaxe, máximas camonianas e lugares-comuns mitológicos. Revela, também, atitude nativista luso-brasileira, ao louvar a terra, enquanto Colônia e os feitos do herói.

OBRA PRINCIPAL - Poesia - Prosopopéia (1601).
DESCRIÇÃO DO RECIFE DE PERNAMBUCO
Pera a parte do sul, onde a pequena
Ursa se vê de guardas rodeada,
Onde o céu luminoso, mais serena,
Tem sua influição, e temperada.
Into da nova Lusitânia ordena
A natureza mãe bem atentada,
Um porto tão quieto e tão seguro,
Que para as curvas naus serve de muro.
É este porto tal, por estar posta
Uma cinta de pedra inculta e viva,
Ao longo da soberba e larga costa,
Onde quebra Netuno a fúria esquiva.
Entre a praia e a pedra descomposta
O estanhado elemento se deriva
Com tanta mansidão, que uma fateixa
Basta ter à fatal Argos aneixa.
Em o meio desta obra alpestre e dura
Uma boca rompeu o mar inchado,
Que na língua dos bárbaros escura
Paranambuco – de todos é chamado:
De – Paraná – que é Mar, – Puca, rotura;
Feita com fúria desse mar salgado,
Que, sem no derivar cometer míngua,
Cova do mar se chama em nossa língua.
Para a entrada da barra, à parte esquerda,
Está uma lajem grande e espaçosa,
Quede piratas fora total perda,
Que uma torre tivera suntuosa.
Mas quem por seus serviços bons não herda,
Desgosta de fazer cousa lustrosa;
Que a condição do rei, que não é franco,
O vassalo – faz ser nas obras manco...
Sendo os deuses à lajem já chegados,
Estando o vento em calma, o mar quieto,
Depois de estarem todos sossegados,
Por mandado do rei, e por decreto.
Proteu no céu, c'os olhos enlevados,
Como que investiga alto secreto,
Com voz bem entoada, e bom meneio,
Ao profundo silêncio, larga o freio.

Bento Teixeira - Descição de Recife de Pernambuco
Sergio Buarque de Holanda
Antologia: os Poetas Brasileiros da Fase Colonial
São Paulo: Perspectiva, 1979, p.30-31.

CANTO DE PROTEU

Pelos ares retumbe o grave acento,
De minha rouca voz, confusa, e lenta,
Qual trovão espantoso, e violento,
De repentina, e hórrida tormenta.
Ao rio de Aqueronte turbulento,
Que em sulfúreas borbulhas arrebenta,
Passe com tal vigor, que imprima espanto,
em Minosrigoroso, e Radamanto.
De lanças, e d'escudos encantados,
Não tratarei em numerosa rima,
Mas de barões ilustres afamados,
Mais que quantos a Musa não sublima.
Seus heróicos feitos extremados
Afinarão a dissoante prima,
Que não é muito tão gentil sujeito,
Suprir com seus quilates meu defeito.
Não quero no meu Canto alguma ajuda,
Das nove moradoras do Parnaso,
Nem matéria tão alta quer que aluda,
Nada ao essencial deste meu caso.
Porque dado que a forma se me muda,
em falar a verdade, serei raso,
Que assim convém fazê-lo, quem escreve,
Se a justiça quer dar o que se deve.

Bento Teixeira - Prosopopéia
Introd. Estabelecimento do texto
Comentários por Celso Cunha e Carlos Duval.
Rio de Janeiro. Instituto Nacional do Livro
Ministério da Educação e Cultura, 1972, p.35.