Alegre vinha para a
cidade uma camponesa trazendo à cabeça bojuda (grande) galão de leite.
“Hei de vendê-lo todo”, dizia, “e com o favor de Deus, com o lucro irei comprar
uma galinha. Há de ser tão bonita quão boa poedeira, pois hei de escolhê-la por
certo sinal que nunca falha. De cada postura dar-me-há dezoito ovos, e,
emprestando-me a vizinha alguma galinha choca, de mês em mês terei uma ninhada
de dezoito pintinhos. Como são bonitos, como piam! Os machos os irei vendendo,
e ajuntando o dinheiro; as fêmeas crescerão; saem à mãe dão-me ovos que é um
regalo; crio-as até ter um cento delas. Cem? não: dez dúzias, é muito
suficiente; não tenhamos mais, que lhes não dê a peste. Ora, com o dinheiro dos
frangão e dos ovos, estou rica! Qualquer tola iria comprar alguma fita para
enfeitar-se aos domingos. É bom andar uma moça faceira e bonita; mas eu antes
quero fazer render meu dinheiro. Compro pois uma porca; e porque não uma
vaquinha? E então ovos, frangão, leite, bezerros, em menos de nada, com juízo e
economia, dão-me com que compre um lindo sítio. Eis-me senhora, enfim graças a
Deus! escolho criadas jeitosas, servem-me elas para levar à cidade o meu leite,
os meus ovos, e frutas, e hortaliça; e então, se aparecer algum rapaz bem
feito, bonito, de bom gênio, e amigo de trabalhar, dou-lhe minha mão e a minha
riqueza. Que fortuna e que prazer.”
Embevecida nessa
prosperidade, a camponesa esquece-se do que trazia a cabeça, e põe-se a dançar,
o jarro cai no chão, quebra-se; adeus leite, adeus galinha, pintos, adeus fortuna!
MORALIDADE: A
esperança toda a vida nos embala; basta-lhe qualquer circunstância, por
insignificante que seja, para que nela assente seus castelos, castelos que a
imaginação doura, e que o
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