
A raposa convidou
um socó (espécie de pássaro mergulhão que caça peixes) para jantar em sua
companhia; devia-lhe obrigações, dizia, e queria obsequiá-lo. O socó aceitou o
convite, e foi-se preparando para fazer honra ao banquete de sua amiga raposa.
Essa, porém, fez servir uma espécie de sopa, posta em um prato raso. Devia
estar saborosa, pois só o seu cheiro dava água na boca e despertava o
apetite; mas como a sorveria (tomaria, beberia) o socó com seu comprido e agudo
bico? Multiplicou bicadas, machucou-se todo, e ficou jejuando, passando fome; a
raposa, entretanto, foi lambendo, e pôs tudo no bucho. Desejoso de
vingar-se, mas ocultando sua intenção, o socó agradeceu a raposa a fineza do
convite, e disse que lho queria retribuir, convidando-a para daí a oito dias
jantar em sua casa. A raposa, que é voraz, aceitou pressurosa. O vingativo socó
apresentou-lhe em um vaso de comprido gargalo uma espécie de carne desfiada,
muito saborosa. No vaso não podia a raposa introduzir o focinho para alcançar a
comida, e o socó de cada bicada arrancava e engolia um comprido naco (pedaço).
Quis enfadar-se a raposa, refletiu, porém, e vendo que era uma justa
desforra, torceu o nariz e foi-se embora, com fome, ainda que não emendada.

MORALIDADE: Não
zombes dos outros, pois achar-te-as exposto a iguais zombarias.
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